domingo, 6 de novembro de 2011

Eu morei neste castelo * ou “Sabendo francês podemos ser mais felizes”


Por mais de quatro décadas esperei por uma afirmação com este teor. Sempre temi ser o único a pensar assim. Ignácio de Loyola Brandão, escritor conhecido e cronista sênior de O Estadão, nesta sexta feira, 4/11, nos surpreendeu com uma matéria, onde ele no faz viajar por uma França de charmes e sabores, de lembranças e vivências e uma conclusão quase óbvia -não obstante surpreendente: “podemos ser mais felizes, falando (em) francês”.
Duas colegas, Jana e Tânia, dos nossos encontros semanais no IGA, muito atentas, generosas me fizeram conhecer a crônica. Merci.
A matéria começa com a afirmação “não me considere esnobe, exibido”, menos modesto, (é sempre assim), eu diria exatamente o oposto: “considere-me esnobe, exibido” – infeliz de quem não ouviu (e entendeu), por exemplo, o sentido de “Je t´aime, moi non plus” de Serge Gainsbourg e Jane Birkin, no final dos anos 1960 ou ainda, daqueles que não tiveram a chance de ouvir pela primeira vez um “je t´aime”, no momento exato do despertar da primeira paixão ou se preferir, da primeira noite que insiste em não acabar, invadida pela sensação (constatação), nada reconfortante de que “un seul être vous manque et tout est dépeuplé” ou se preferirem – “basta que uma única pessoa falte para que o mundo lhe pareça completamente vazio - um deserto”.
Ninguém pode ser culpado por não estar onde as coisas, de repente, acontecem ou aconteceram, já, viver a adolescência, lá mesmo onde o amor foi, se não inventado, pelo menos como em nenhum outro lugar, colocado em versos, foi um grande privilégio.
Rimbaud, Verlaine, de quem fala o cronista ou mesmo o deprimido Baudelaire das noites insones e nostálgicas, com suas “Harmonie du soir” ou “Correspondances”, e ainda um Gerard de Nerval, com El Desdichado, (cujos versos, sem dificuldade, ainda posso citar) são registros de verdadeiros “frissons” . Eu disse frisson e não arrepio.
J´ai tout appris de toi, juqu´au sens du frisson”,(de você tudo aprendi, até o significado do arrepio) me vem à mente o que cantava Jean Ferrat, nos versos do Louis Aragon,poeta maior do Surrealismo, da primeira metade do Século Vinte, nos Hits Parade de minhas tardes pós-adolescentes, nas dependências do Chateau de La Tremblaye, construído sobre um sitio impregnado do sangue dos vendéens (Vendée), da batalha de Cholet.
A matéria do jornalista deixa entrever, apesar de não aprofundar: conhecer, falar a língua, evita o erro no qual, geralmente, as traduções incorrem. Palavras que expressam sentimentos, quando traduzidas, não passam de traduções literais, apenas isso, uma vez que omitem o contexto.
Sentimento não é química, ainda que se diga “rolar uma química”, sentimento se expressa com o concurso de todas as ciências ou de nenhuma delas, o que dá no mesmo.
Por fim, conhecer a França, no original, sem tradução ou interpretação (intérprete) só com o domínio da língua se consegue. Os franceses, que não nasceram ontem (desculpem o lugar-comum) ou que não se fizeram na velocidade de um fast-food -procurem por um Mac Donalds no interior da França-, sabem muito bem distinguir o forasteiro que veio somente para se apropriar da sua cultura e da sua historia, construídas sobre muito sangue e sacrifício –“Égorger nos fils et nos compagnes!” (Decapitar nossos filhos e nossas companheiras) canta o francês(até mesmo nos estádios de futebol) no seu Hino Nacional La Marseillaise, daquele que busca em sua “France Profonde” (França profunda, autêntica e não a dos cartões postais), um “savoir-faire” ou um “savoir-vivre” que resultou de séculos de experiências e de aprendizados.
Ninguém aprende de fato uma língua sem mergulhar nas histórias do povo que a fala. Falar uma língua estrangeira é muito mais do que comunicar-se. Muitos existem que, apesar do tempo dedicado ao estudo de uma língua, só conseguem comunicar-se. Para falar, precisa ir um pouco além, como imbuir-se do espírito daqueles que ao longo de séculos fizeram esta língua. Mais do que estudar, é preciso viver a história do povo que a fala. Viver a língua é investir(investigar e apreender) na felicidade dos que a praticam. Parlons français et soyons heureux!
O convite é quase irrecusável!
Quer ver a reportagem do Ignácio de L. Brandão? Clique em:
Sabendo francês podemos ser mais felizes
*Chateau de La Tremblay-Cholet(hoje hotel de charme), de setembro 1967 até agosto de 1969!

Um comentário:

  1. Adorei os dois artigos o seu Monsieur Ávila e o do Monsieur Brandão, mas, eu diria que fui muito feliz nos dez dias que passei em Paris!Mesmo não falando mais que merci.Porque eu não Vi o camelô africano na Tour Eiffel,nem a linda mulçumana pedindo esmola na Avenue dês Champs-Élysées,não comprei souvenir made in Taiwan em Château de Versailles ou roupa made in China nas Galeries Lafayette, e graças a Deus não flertei ou senti frissons com nenhum francês made Paraguay.Ah! comi croissant e tomei vin français legítimos e não genéricos e ninguém saiu à francesa de pertinho de mim.Félicitations!!!

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